Não é de hoje que a indústria da moda percebeu o vasto potencial promocional existente no cinema, da mesma forma que o cinema entendeu que seria impossível ambientar narrativa e personagens em um dado período da história ou cultura sem uma atenção especial aos figurinos.
Essa união entre cinema e moda perdura há anos. Ambos são autênticos vendedores de sonhos. Quem assiste se imagina vivendo as situações em cena. Já os atores e atrizes são capazes de influenciar estilos de vida, o que reflete diretamente na maneira de se vestir. Um exemplo clássico disso é o caso do jeans. Até a década de 1950 o material era considerado tecido para roupas de trabalho, mas com a ascensão hollywoodiana de Marlon Brando e James Dean, com o estilo descolado de blue jeans & t-shirt, as peças ganharam o gosto do público e alcançaram o status que se mantém até hoje.
Foi assim que as grandes marcas viram nessa reação do cinema sob o público a oportunidade de transformar as produções e os artistas em vitrines, a partir da visibilidade que eles possuíam. Dessa forma, passou a ser muito comum a assinatura de estilistas em figurinos das produções. Um dos mais clássicos exemplos é a do lendário vestido “pretinho básico” usado por Audrey Hepburn em Bonequinha de Luxo (1961), assinado por Hubert de Givenchy.
Mas por que esse vestido faz tanto sucesso depois de 60 anos? Por que ele é um modelo atingível – claro, tirando o fato dele ser um Givanchy. O estilo é simples, porém glamuroso. O público pode facilmente reproduzir o modelo e assim se conectar com a personagem e a atriz, coisas que acontecem até hoje não só através dos filmes, mas também das séries e programas de televisão.
Até chegar às araras das lojas a moda faz um caminho, onde tem como um de seus principais meios de transporte a indústria cinematográfica. “A moda é sempre uma reinvenção”, é o que diz o estilista e professor brasileiro Mário Queiroz. Ela busca referência no passado para lançar novas tendências, e o cinema é uma grande porta para entender o comportamento das pessoas. São os detalhes da sétima arte que a tornam tão única. E são nesses aspectos que a moda se alia no cinema. O figurino é responsável por transmitir traços na personalidade do personagem, embasar um período histórico, enfim, dar sentido à obra.
No filme Cruella, lançado em maio deste ano, foi apresentado ao público grandes referências de moda. Para a personagem de Emma Stone, os looks foram inspirados no movimento punk-rock londrino de 1970 com referências a criações de estilistas de renome, como Dior e Chanel.
Mais uma vez podemos observar o que Mário Queiroz nos diz sobre a moda, que ela recupera tendências, se reinventa e se projeta para o futuro, assim como os movimentos que estamos presenciando, como a volta das t-shirts e das calças mom.