O Reclame Aqui se tornou, ao longo dos anos, um ponto de referência para consumidores insatisfeitos e um verdadeiro campo minado para as marcas. O que nasceu com a proposta de ser uma ponte entre empresas e clientes se transformou em um ambiente de exposição constante, onde até mesmo as companhias mais comprometidas com a resolução de problemas saem com sua imagem desgastada. A pergunta que muitos empresários e gestores de marketing já se fazem — mas poucos verbalizam — é: estamos alimentando um sistema que joga contra nós?
É evidente que o cenário se tornou exaustivo para quem tenta manter a reputação da empresa intacta nesse ecossistema. Por mais que se responda de forma educada, rápida e proativa, muitas vezes a percepção pública não muda. O tom das críticas permanece, e a resposta da marca acaba apenas reforçando sua associação com problemas. O esforço para agradar parece alimentar uma engrenagem que gira a favor da reclamação — não da solução.
Há ainda um aspecto delicado que poucos ousam discutir: o uso estratégico da plataforma por alguns consumidores. Não são raros os casos em que o Reclame Aqui é utilizado como instrumento de barganha. Reclamar virou uma forma de acelerar atendimentos, obter vantagens, conseguir brindes ou compensações que não seriam oferecidas em um canal convencional. A chantagem sutil se instala, e a empresa se vê encurralada: cede ou vira vilã.
Outro problema crônico — e que atinge diretamente o posicionamento digital das marcas — é a indexação dessas reclamações nos mecanismos de busca. Basta pesquisar o nome de uma empresa no Google para que o Reclame Aqui apareça entre os primeiros resultados, quase sempre com um título negativo. Mesmo que a situação tenha sido resolvida de forma exemplar, a palavra “reclamação” segue ali, eternizada. Isso prejudica a percepção de novos consumidores e pode afastar potenciais parceiros.
Em resposta a esse ciclo tóxico, algumas empresas têm adotado uma postura mais ousada: deixar de responder na plataforma. Em vez disso, investem em canais diretos e privados de atendimento, nos quais conseguem construir um relacionamento mais transparente e genuíno com seus clientes. Essa mudança de rota é estratégica. Ao não interagir com o Reclame Aqui, a empresa reduz sua presença no site — e, por consequência, nos buscadores — o que ajuda a proteger sua reputação a longo prazo.
Essa atitude levanta uma questão importante sobre a sustentabilidade da própria plataforma. Se as empresas deixarem de responder em massa, o que sobrará? Um acervo unilateral, sem contraponto, que perde força perante o consumidor. Sem a participação das marcas, o site deixa de ser ponte e vira apenas um mural de lamentações. E sem relevância, perde também visibilidade nos mecanismos de busca. A equação é simples: sem engajamento das empresas, o Reclame Aqui se torna irrelevante.
Diante disso, fica o convite à reflexão. Empresários, gestores, tomadores de decisão: até que ponto vale a pena continuar alimentando um sistema que se beneficia do desgaste das marcas? Será mesmo estratégico manter essa exposição contínua, ou é hora de reavaliar os canais por onde escutamos nossos clientes? Em um ambiente cada vez mais digital e reputacional, talvez o verdadeiro cuidado com a imagem esteja justamente em saber quando dizer não a certos palcos — e priorizar o relacionamento direto, silencioso e eficaz.
Autor: Nikita Cherkasov