Elogiada pela sua Xaviera em “Mar do Sertão”, novela das 18h da TV Globo, Giovana Cordeiro tem gostado da maneira como a personagem joga com a própria beleza. “Ela não é aquela mulher fatal, mas sabe que é bonita e como isso pode ajudá-la”, conta a atriz, que passou a lidar com a própria imagem de um jeito diferente, depois de uma transição capilar. “Quanto mais estamos à vontade com a própria pele, mais enxergamos a nossa beleza. Ter consciência de que ser como somos é o suficiente, nos empodera.”
O GLOBO – Você já fez uma cena inspirada em “O auto da compadecida” em “Mar do Sertão”. O que o cinema brasileiro representa para você?
GIOVANA CORDEIRO – O cinema brasileiro é muito rico! Poder homenagear uma obra como “O Auto da Compadecida” foi muito especial, e foi muito suado (risos). A gravação levou umas cinco horas. E a roupa era pesada, quente. Mas a gente se divertiu tanto fazendo e, depois, vendo como ficou no ar, como o público também adorou a homenagem que tudo vale a pena. Foi ainda mais especial para mim porque foi uma maneira de homenagear a Fernanda Montenegro, uma referência e com quem eu tive o privilégio de contracenar em “O Outro Lado do Paraíso”. Ainda sobre o cinema brasileiro, é um cinema que tem muitas obras importantes, que transita do drama à comédia e traz ótimas histórias para nós. São também retratos dos vários Brasis que temos no Brasil. Tenho muito orgulho de fazer parte tanto do cinema nacional com meu trabalho.
Tem algum projeto para o cinema, aliás?
Tenho sim. Eu estou no elenco da cinebiografia do Sidney Magal. Interpreto a Magali, mulher dele. Foi um projeto muito divertido e gostoso de rodar. Eu conheci a Magali e o contato com ela me trouxe muita informação. Já está todo filmado. Estamos aguardando o lançamento.
A sua personagem na novela já roubou para se alimentar. É um problema frequente no Brasil. Como foi representar uma situação tão delicada?
A questão da fome é muito grave no país, voltou a ser um grande problema. Ter 33 milhões em situação de vulnerabilidade alimentar era algo inimaginável. Ver o Brasil de volta ao Mapa da Fome é muito triste. E mesmo que você não veja alguém passando fome ao seu lado, não significa que essas pessoas não existam, ou que os números sejam mentirosos. Não são. Esse é um problema real que precisamos enfrentar por meio de políticas públicas.
Você se inspirou em alguém ou conheceu pessoas parecidas na preparação da personagem?
Um grande inspiração para mim foi Tieta, interpretada por Betty Faria. As duas personagens são mulheres fortes, que buscam ser muito fiéis a suas vontades e desejos, que sabem usar as armas que têm a seu favor. Sem contar que ambas são permeadas por humor, o que as torna muito reais. O público se identifica. Eu percebo muito isso. Assim como Tieta, Xaviera sai escorraçada da cidade e volta tempos depois dando a volta por cima. Bem, a volta por cima de Tieta a gente já viu. Agora vamos ver se Xaviera dá sorte, gente?! Porque ela sofre. Tudo dá errado para ela (risos). E olha que mesmo assim ela segue em frente.
Como você espera que a sua personagem toque as pessoas?
Eu acho que as pessoas já estão sendo tocas por Xaviera pelo retorno que eu tenho nas redes sociais, nas ruas. É muito divertido porque ela apronta bastante, mas as coisas saem completamente do controle. Cada ideia dela parece um plano infalível do Cebolinha (risos): quando começa, o público já espera que ela vá se dar mal. E acho que foi uma escolha acertada demais do autor em fazer a personagem mais como uma anti-heroína do que propriamente uma vilã. Isso trouxe uma leveza para ela e para história, ajudando o público a se identificar com ela, a torcer por ela. Estou muito feliz com o retorno que tenho da personagem.