Especialista afirma que a moda tem sido mais minimalista nos últimos anos
Roupas com mais durabilidade e qualidade são alguns dos motivos que levam as pessoas a procurarem brechós, conforme conta a especialista em comportamento de consumo e professora do Senac Sorocaba (SP) no curso de moda, Priscilla Thibes Pizzol. Além da história que as peças carregam, o reaproveitamento ajuda o meio ambiente.
Ao temmais.com, Priscilla explicou que alguns sites têm lucrado com a venda de roupas mais baratas, o que ficou conhecido como “fast fashion”, que é a moda rápida.
“A gente vê que a qualidade dessas peças não são muito boas e se a gente fizer a conta de quanto custa o transporte e a produção, a conta não fecha. Uma hora as pessoas vão entender que, se elas não consumirem tanto, vão buscar peças mais duráveis. Isso também aumenta o consumo do brechós.”
Para Priscila, a moda tem sido cada vez mais autoral e minimalista, o que tem influenciado diferentes estilos e características dos comércios, seja loja física ou online.
“Vejo que a tendência é adequar a necessidade de consumo. Depois da pandemia, as mulheres começaram a usar calças mais largas, por exemplo, prezando pelo conforto. A tendência é definida através do comportamento coletivo e dos estudos nos quais a gente identifica as necessidades.”
A mudança no consumo depois da pandemia foi algo percebido por Michele Rios, de 38 anos, dona de um brechó em Sorocaba desde 2014. Ela mantém as vendas de forma online, mas também possui uma arara dentro de um bar, no Centro.
“Antes era um público muito específico, da galera que gostava mais de peças vintage. Hoje não, está para todo mundo. Quando comecei, em 2014, ia fazer evento e ainda tinha um preconceito. Hoje já tem brechós de alto luxo.”
Michele conta que busca trazer propostas de roupas sem gênero no estilo do brechó, prezando pelo conforto e sofisticação.
“Tem muito esse lance do sem gênero, por ser algo que eu acredito. De uns dez anos para cá tem sido muito natural. Acho importante a gente começar a experimentar. As pessoas começaram a perceber a rapidez da moda. É a indústria que mais emprega mulheres, mas é a que mais polui. Às vezes, aquela peça só perdeu o sentido, mas ela está em bom estado.”
Michele Rios mantém o brechó desde 2014 (Foto: Relicário Vintage)
‘Vestir pessoas de arte’
Em fotografias de autorretrato, Karina Soares, de 27 anos, usa a criatividade para mostrar as peças de roupas que vende em seu brechó. Ela começou com esse trabalho há dez anos em Sorocaba.
“Sempre produzi coisas que eu gostava. Costurava as coisas à mão e fui formando a minha identidade. O brechó tem essa característica teatral. Fui muito em bazares e fazia essas modificações em roupas para eu usar até o momento que percebi que as pessoas queriam que eu fizesse para elas.”
Ela começou em 2013, aos 17 anos, e chegou a se formar em pedagogia, mas passou a se dedicar exclusivamente ao seu negócio depois que começou a crescer nas redes sociais.
Nesse caminho de entender a própria identidade que quer passar, acaba inspirando outras pessoas pela arte que exerce.
“Me visto de mim, me visto das minhas ideias, da minha criação, de cores que alegram e mostram vida. Acredito nesse tipo de viés, de vestir pessoas de arte, de elas enxergarem elas, de mostrar a arte que elas querem passar.”